sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A SOMBRA DE TUA AUSÊNCIA

Você chegou preenchendo o vazio
Expulsando meu frio
Com suas mãos delicadas e sua voz agradável
Não acreditava que havia esperanças para alguém execrável.
Enquanto olhava para a escuridão
Você me conduzia para a luz
Mesmo não enxergando a imensidão
Você me ajudou a carregar a cruz.
Eu parei na metade do caminho
Você não compreendeu bem o sentido
Mas durante muitos anos, andei sozinho
E me acostumara com o coração ferido.
Mas você exorcizou meus demônios
Instaurou no meu coração negro a esperança
E então rompi a casca de proteção
E decidi caminhar pela imensidão...
No começo você prometeu um tapete de flores
E que sentiria todos os possíveis odores
Que estaria sempre ao meu lado
Até mesmo quando estivesse perdido em mim
Eu deixei-me levar, acreditei em suas palavras
Eu precisava delas naquele momento
Mesmo tendo passado tanto tempo
Caminhando contra o vento
Contra tudo que todos diziam ser belo
Mas eis que você surge, como um anjo do mal disfarçado
Eu resisti aos seus encantos
Mas eu era mais uma cabeça para exibir em sua parede
Você não podia deixar-me de lado
Olhou em meus olhos e achou que vira um problema
Mas esquecera de prestar atenção
E ver teu reflexo em meu coração
Então de repente você partiu
E tudo que construiu, ruiu
E então me vi perdido em um novo mundo
Completamente desconhecido
Pois aquele que acostuma com o peito ferido
Aprende a caminhar para qualquer lugar
pois não importa
sempre estará perdido
entre um sonho e uma realidade
que termina sempre, mediante a outra vontade.

Se você gostou do poema e gostaria de usá-lo em algum lugar, não custa nada, mande um email para o autor e ele lhe permitirá usá-lo.

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

É Preciso Saber Ouvir - Final

Eu abri os olhos, com a cabeça encostada no vidro, algumas pessoas olhavam para mim, de repente e inexplicavelmente começaram a gritar, eu não estava entendendo nada, então, observei que uma delas apontou em minha direção, mas não para mim, para fora, e, lentamente, olhei na direção indicada e o que vi, foi breve, foi o segundo mais eterno que vivi durante toda minha vida. Havia um homem do lado de fora com uma arma na mão, ela estava apontada para minha cabeça. Os meus olhos e os daquele homem se encontraram por um momento, e pude ver ali todo aquele sentimento de ódio por um breve momento, logo no segundo seguinte, tudo que pude sentir fora aquele impacto e algo como uma agulha incandescente transpassando minha cabeça.
Logo em seguida, meus olhos se fecharam e meu corpo acabou caindo para o lado esquerdo do ônibus, as pessoas entraram em desespero e começaram a gritar, havia algumas crianças por ali, estavam chorando, mas tudo ao meu redor, já não fazia mais sentido, meu coração batia, mas sentia que meu corpo começava a esquecer tudo que aprendera... tudo parecia estar em seu lugar, menos o órgão principal, aquele que coordena tudo... Meu cérebro.

Não havia mais a estranha sensação, meu corpo parecia uma pluma, tudo parecia completamente diferente, não havia mais preocupações, nada mais importava naquele momento. A vida que passara por mim, agora, nada mais era que degraus que utilizei para chegar até aquele momento, nada fiz de grandioso, mas tentei viver minha vida da melhor forma. Agora, se eu tivesse ouvido e não resistido ao ficar em casa, eu provavelmente ainda estaria por aqui, mas, uma pergunta eu deixo: como sabemos qual o nosso verdadeiro destino? Sendo que, nunca estamos felizes com nada e sempre procuramos por mais... Agora, tudo que me restou, é silêncio, meus lábios não obedecem minha vontade, agora tudo que tenho são pensamentos e lembranças fragmentadas até o momento que meus nervos pararem de funcionar e perceberem, que a grande caixa cerebral fora danificada e se razão alguma, como se alguém, nos dias de hoje, tivesse alguma razão para justificar seus meios.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

É Preciso Saber Ouvir - Parte 3

Quando deu a hora do almoço, juro que pensei que as coisas melhorariam, mas para meu desespero e confirmação das negatividades daquele dia, tive um almoço péssimo. Não sei o que comi, mas algo não caiu bem, talvez tenha sido aquela azeitona ou até mesmo o copo d´água. Eu estava sozinho e isso era péssimo, meus amigos já haviam almoçado, era tarde e a comida estava fria e era praticamente restos, o que sobrara do almoço. Mesmo assim, comi, estava com fome e meu estômago estava simplesmente latejando de dor, porém, a comida não caiu muito bem, estava preocupado e aflito, aquela estranha impressão de que algo estava preste a acontecer me perseguia.

E durante todo expediente aquela sensação continuou comigo, mas nada de ruim acontecera depois do almoço, tudo estava correndo perfeitamente, cheguei a esquecer os terríveis pensamentos e acabei até sorrindo de minha própria fobia. Tudo aconteceu tranqüilamente, e as 19hs lá estava eu, no ponto final do Tiradentes, sentado na janela e com meus olhos pesados. Estava com sono, e precisava dormir, então fechei os olhos e acabei adormecendo. É incrível como algumas pessoas conseguem dormir profundamente nos coletivos e ainda acordar antes de seu ponto, eu devo confessar que sou uma dessas pessoas, durmo, chego a sonhar, e sempre desperto faltando uns 8 pontos até chegar em casa. Mas desta vez, despertei em outro lugar, um lugar bem antes de minha casa. E, foi naquele lugar que minha vida mudou completamente.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

É Preciso Saber Ouvir - Parte 2

Ao chegar na empresa, a estranha sensação encontrou sua razão. Tudo que colocava a mão, simplesmente dava errado, o computador praticamente não funcionava e isso não era o pior, todos materiais que precisava entregar, eram urgentes. Estava complicado, para você ter uma idéia, imagine minha chefe me chamando, o cliente me chamando, o computador demorando, e meu sangue esquentando... Poético não? Até rimou, mas, agora, as coisas não parecem tão belas assim, é complicado você olhar para algo que um dia fez parte e descobrir que agora já faz parte do passado. É duro para mim, pois eu tinha muitas coisas para fazer. Você não deve estar entendendo nada do que estou dizendo, não é mesmo? Mas tenha uma pouco de paciência, todo contador de história começa seus contos de uma forma branda e aos poucos, vai colocando ação para entreter aquele que lê, contudo, isso não é entretenimento, se você esta lendo isso para passar o tempo, saiba que você é um grande sádico. Mas não te condeno, mesmo assim, não te condeno, por que as vezes é muito difícil se colocar no lugar de alguém, ainda mais se estivermos errados. Eu não estava errado, na verdade estava, na hora e no lugar errado, e olha que, essa combinação é mortal.

domingo, 14 de dezembro de 2008

É preciso saber ouvir... (1ª parte)

Sabe quando você desperta com aquela impressão que não será um belo dia? Que você prefere ficar em casa do que trabalhar? Mas que infelizmente, sempre pensamos no dia do pagamento e no dia seguinte. E para evitar mais alguns problemas, engolimos nossas estranhas sensações e nos dirigimos para o trabalho.
Isso aconteceu comigo naquele dia, o relógio despertara em sua hora habitual, contudo, lembro que apelei para o acessório soneca umas dez vezes. Eu não queria trabalhar, queria ficar em casa, meus cobertores me abraçavam carinhosamente, eram duas lindas mulheres me aquecendo por inteiro, entretanto, resisti ao encanto e acabei me levantando sem olhar para trás. Tomei um banho caprichado e um belo café da manhã para ver se ficava um pouco mais animado, mas, infelizmente, meus planos deram errado, e assim que meu ônibus, como sempre lotado, chegou ao ponto, todo misero ânimo que possuía desaparecera por completo. Você deveria ter ficado em casa, Alberto. Hoje não é seu dia. Mas, agora era tarde, não havia como voltar atrás, eu já estava dentro do Cidade Tiradentes e aquela estranha impressão, continuava, infelizmente, ainda mais latente.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Continuação Noite Negra Interior - Final

(Segunda parte)

Estava sem nenhuma opção, o medo que ardia em minhas entranhas era maior que qualquer iniciativa, acabei por fim, deitando novamente em minha cama, cobri a cabeça e como uma criança assustada, fiquei com os olhos abertos esperando ver algo se esgueirando pelo meu quarto, mas não acontecia nada, tudo estava em silêncio, a não ser o tic-tac do meu relógio. O gato Félix estava vivo novamente e isso indicava que a luz voltara para meu lar, não me sentia na idade da pedra, agora podia respirar com um pouco mais de tranqüilidade.
Contudo, subitamente, ao esgueirar-me lentamente pelo meu esconderijo de cobertores, vi novamente a sombra projetada e por uma fração ínfima de segundo, desejei a escuridão total, pelo menos não veria aquela tenebrosa sombra disforme, me observando de vez em quando.
Mas, tudo aquilo estava me cansando, ficar deitando ali, me escondendo era completamente humilhante para alguém da minha idade, já não era adolescente, para ser franco, já passara há muitos anos pela puberdade, mas, ali estava eu, oculto sob os cobertores, tremendo de medo de algo que não sabia o que era. Eu tinha duas opções, enfrentar meus medos ou simplesmente ficar ali até amanhecer e, julgando que nada demais poderia acontecer, fiquei por ali mesmo. Em silêncio total, para tentar ouvir qualquer coisa que indicasse que, aquele estranho e misterioso visitante tivesse partido de meu amado lar.
Por fim, a chuva torrencial acabou cedendo, até mesmo os trovões, agora eles pareciam estourar bem longe de meu bairro, bem longe de minha fértil imaginação, contudo, os relâmpagos ainda insistiam em iluminar o céu escuro e uma parte de meu quarto com sua luz pálida e mortal.
Agora a sombra havia desaparecido por completo, o silêncio invadira meu apartamento emprestando a ele aquele ar de solenidade digna a um velório. E, tirando essa pequena sensação, tudo parecia completamente normal por ali, lentamente fui descobrindo minha cabeça e assim que meus olhos puderam olhar ao redor, vi os olhos de meu relógio trabalhando incansavelmente. Ele marcava duas horas, mas eu sabia que estava errado, havia parado e ficara assim durante um tempo que mais parecia com uma pequena eternidade.
Mesmo assim, fui sentando-me em minha cama, reunindo coragem para levantar-me e ver o que verdadeiramente estava acontecendo por ali. Eu já estava colocando uma das pernas no chão quando ouvi um estrondo vindo de fora. Meu coração quase saltou pela minha boca, e eu mesmo não sabia como chegara ali embaixo tão rápido, apesar que, agora não importava saber como cheguei, importava que estava protegido, mesmo sabendo que não há formas de estarmos protegidos por um misero cobertor.
Com aquele pensamento, percebi que estava completamente a mercê de qualquer que fosse aquela estranha presença, digo presença, pois não sabia se era um simples ladrão, ou se era alguma alma penada vinda das profundezas do inferno para me assombrar? Eu não sabia, mas agora estava decidido, eu iria levantar-me dali e enfrentaria quem quer que fosse, como um homem de verdade e foi exatamente o que fiz.
Levantei-me de uma só vez e coloquei os pés no chão, assim que eles tocaram o carpete, senti a friagem subindo pelas minhas pernas e se espalhando por todo meu corpo. Estranhei aquela sensação. Seria possível ter entrado água em meu apartamento? Era simplesmente impossível, eu estava no sétimo andar. Coloquei os dois pés no chão e dei um impulso, colocando-me de pé, aproximei-me do criado-mudo, abri sua gaveta e revirei por um momento o pequeno espaço. Servia qualquer coisa que pudesse perfurar, machucar ou simplesmente inibir, quem quer que estivesse ali, mas, para meu desespero, tudo que havia ali naquela gaveta era um livro que há muito tempo julgara perdido e, algumas camisinhas usadas, era simplesmente grotesco.
Fechei a gaveta e comecei a caminhar lentamente, passo após passo em direção a porta entre aberta. Meus ouvidos e todos os meus sentidos estavam voltados para qualquer sinal de vida que se manifestasse além daquele quartel general que meu quarto tornara-se, mas, tudo era silêncio, ao menos em minha casa, lá fora, as pingueiras ainda eram ouvidas.
Continuei aos pequenos passos, e quando estava preste a sair, eis que um imenso relâmpago iluminou meu quarto, trazendo consigo o melancólico uivo do vento, logo em seguida, quase que imediatamente, a sombra negra surgiu novamente na parede, mas agora, ela parecia ainda mais agitada, sem pensar em mais nada e pego de surpresa, acabei pulando em minha cama, e para minha infelicidade, a parte de baixo acabou arriando ali mesmo, me senti como se estivesse em um hospital, agora, para complicar ainda mais minha situação, além de me manter coberto, tinha que ficar segurando na cabeceira. E assim continuei.
Fechei os olhos tentando adormecer, mas agora a posição não ajudava, se soltasse da cabeceira, meu corpo deslizaria até chegar ao chão, então me mantive não somente com os olhos abertos, mas também, todos os sentidos que pudessem me ajudar a fugir de alguma forma. E ali fiquei e aos poucos, tudo fora voltando ao normal, mas eis que de repente, um novo relâmpago clareia e o trovão agora falara alto.
Me encolhi, estava com medo, devo confessar, meu interior dizia que algo muito estranho estava para acontecer, e tudo que estava ao meu redor, agora parecia uma ameaça. O vento começou a soprar novamente e de repente, ouvi alguns baques surdos. Fechei os olhos e pela primeira vez, rezei.
Algo muito ruim parecia ter levantado daquele lugar, talvez tivera chegado a minha hora, ou seja, qualquer pessoa que pudesse servir de alimento. A janela do vizinho continuava batendo incansavelmente e ele parecia não se importar com o barulho que ela produzia, as batidas eram realmente fortes e escandalosas, mas ninguém parecia se incomodar, pois se tivessem incomodado, alguém teria dado algum fim aquele barulho.
Eu que não podia fazer nada referente a isso, apenas ficava nervoso e ansioso pela manhã de um novo dia, comecei a pensar que em breve o sol poderia nascer, afinal de contas, o gato Félix, estava marcando quase três e meia da manhã. A qualquer momento o sol poderia nascer e tudo voltaria ao normal, e, com certeza, anotaria os estragos e tomaria as medidas corretas para que não acontecesse novamente aquela situação.
Amanhã, esse era o plano para amanhã.
Cobri minha cabeça e voltei a posição fetal, era um pouco complicado, as pernas de minha cama estava quebrados devido ao excesso de adrenalina repentina no cérebro, mas acabei deitando mesmo assim, e o sono chegou rapidamente sobre meus olhos. Bocejei com imenso prazer e deixei os olhos se fecharem.
E assim comecei a sentir que estava prestes a adormecer, em breve estaria completamente longe de toda aquela conversa. Bocejei mais uma vez e fechei meus olhos para valer, agora eles estavam pesando demais e não podia impedi-los de se fecharem e assim o fiz. Depois de alguns míseros segundos, já sentia minha mente completamente anuviada devido ao estado de entrada do sono, até que, de repente, ouvi o barulho de vidraça se quebrando e de um único pulo, sai correndo em direção a cozinha.
Não estava pensando em mais nada, fora completamente instintivo, assim que sai do corredor, pisei em algo que levou-me ao chão no mesmo instante, ao cair no chão, senti minhas costas sendo congeladas pelo líquido que estava espalhado por ali, levantei-me com certa dificuldade, além de ter machucado minhas costas, minhas roupa estava completamente encharcada, minha cabeça girava, estava completamente desnorteado, mas pelo menos, o brilho sereno do sol da manhã, anunciava um novo dia e o fim de uma noite repleta de equívocos. Ao olhar minha cozinha tudo parecera ter sentido.
Mesmo um homem solteiro precisa comer de vez em quando, e quando se cansa de pizzas e lasanha congelada, nada melhor que uma boa alimentação frugal, naquele dia havia ido a feira e trouxera algumas laranjas, maçãs e mexericas, contudo, esqueci de guardá-las na geladeira e acabei deixando sobre a pia, o saco das laranjas estava aberto o que era a combinação perfeita com a janela da cozinha que deixara aberta.
Como na noite da tempestade ventou muito, a tabua de cortar alimentos, que sempre deixo na janela da cozinha, caiu sobre as laranjas que, lamentavelmente, foram caindo no chão que, como disse, era uma espécie de assoalho de madeira e que formaram aquele barulho de passos que ouvira. O som do vidro quebrado, infelizmente fora da minha janela, a pia estava coberta por cacos de vidros e também de uma antena Sky que era do vizinho do andar de cima, aos poucos as peças do meu terror foram se encaixando, agora só faltava a sombra que se esgueirava em meu quarto, mas não precisei ir muito longe, só precisei passar diante de meu quarto e ver que comprara um móbile de morcego para dar um charme a minha modesta residência. Eles estavam longe de minha porta, mas a linha era grande e a janela da cozinha estava completamente destruída, por isso eles balançavam periodicamente e por isso também que meu chão estava completamente molhado, em outras palavras, tudo que vira na noite anterior, fora apenas, produto de uma mente completamente excitada pela sua própria imaginação, agora restava apenas consertar os prejuízos, ou seja, arrumar a cama, secar o chão, conversar com o vizinho sobre a antena e os reparos que ele deveria pagar e também tirar aquele móbile de perto da lâmpada do corredor.

Fim

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Noite Negra Interior - 1ª parte

Despertei abruptamente e, por alguns instantes fiquei olhando ao meu redor, em minha mente, havia a estranha sensação de não estar onde deveria estar, mas aquele ainda era meu quarto, o meu relógio despertador do Gato Félix estava ali ao lado, trabalhando com seus olhos indo de um lado para outro e com um sorriso mortalmente eterno em sua face, eram apenas uma hora da manhã, constatei. Pensei em levantar-me, para ir até o banheiro ou tomar um pouco d´água, mas, temia despertar de uma vez e embarcar em mais uma noite de insônia, por isso, me aconcheguei em minha cama e deitei-me de lado, virado para a parede, fechei os olhos e deixei a mente livre, ou pelo menos, tentei deixar a mente livre... Mas acabei descobrindo que não conseguiria.
Fiquei olhando para a luz que penetrava e se projetava na parede de meu quarto, por mais homem que fosse, não gostava de dormir com todas as luzes apagadas, a escuridão total me inspirava sentimentos tão negros quanto elas, sentimentos estes que, até eu mesmo os estranhava quando pensava neles, contudo, naquele dia, eu preferia estar na escuridão total, ao menos, não veria o que acabei vendo impresso na parede amarelada.
Meus olhos estavam começando a pesar e meu corpo não estava resistindo mais ao sono, meus olhos começaram a piscar e minha mente acabou se desviando da parede, mas subitamente ela retornou para a parede e meus olhos se abriram, e assim que focalizei-a, percebi uma estranha sombra se esgueirando pelo corredor. Sentei-me na cama assustado, e sem saber o que fazer, fiquei segurando os cobertores que puxei para junto de meu peito como se eles pudessem me proteger de alguma coisa ruim. Eu não sabia o que fora exatamente aquilo exatamente, mas sabia que tinha que levantar-me e averiguar, mas, como morava sozinho, não havia muitas coisas para serem levadas se fosse algum ladrão. Dinheiro muito menos, então, como um rato preferi me ocultar sob meus cobertores e ali fiquei, com os olhos bem abertos e com os ouvidos atentos para qualquer tipo de barulho.
Mas, tudo estava em silêncio, a casa estava como sempre estivera depois que me retirava para dormir, um silêncio completamente mortal. Comecei a reunir minhas forças para colocar uma parte de minha cabeça para fora, eu tinha que agir como um homem, sabia disso, afinal de contas, era isso que eu era, um homem, então fui tirando o cobertor lentamente de minha cabeça e assim que olhei para a porta, a sombra correu para o corredor. Instantaneamente, me acobertei novamente, agora meu corpo tremia por completo, agora tinha certeza, havia mais alguém ali na casa comigo... E por infelicidade, tinha certeza que não era algum ladrão, tudo estava em completo silêncio, e todos nós sabemos que ladrões, por menor que seja, fazem algum barulho, e ali em minha casa, que era pequena, não havia som algum, a não ser os pingos que se chocavam com o solo lá fora e que anunciavam uma tempestade e que, para meu desespero, foi aumentando rapidamente até tornar-se uma chuva forte e de terríveis relâmpagos e trovões. E agora tudo que conseguia ouvir eram os trovôes e para complicar ainda mais meu desespero, a luz do corredor se apagou de repente, imediatamente olhei para o relógio do Gato Félix e vi seus olhos parados, fixos em mim, e isso indicava que a luz havia acabado, agora o relógio estava parado as quase duas da manhã e, não havia agora como contar o tempo para a chegada do sol, a noite com certeza seria interminável. Sem saber o que fazer, me acobertei novamente e me encolhi em uma posição quase fetal, o medo se espalhava velozmente pelo meu corpo. E tudo que desejava naquele momento era adormecer como uma pedra, mas infelizmente, as sombras projetadas na parede pelos relãmpagos venciam o cobertor e a cada momento, pareciam cada vez mais terríveis. Eu precisava fazer alguma coisa, mas o que? O que!